vender seu próprio peixe é algo suspeito e coisa que não queria fazer. decidi retirar esse comentário acerca deste álbum que acabou de ser lançado. ah, sim, eu sou o baterista desta banda...
Carregado. Carregado de negatividade. É assim que vem o novo disco do
Bugs. A inspiração não é a vida dos quatro bons moços que formam a banda, mesmo que todo mundo possua seus momentos ruins e passe dos limites. A inspiração pode ser Natal, suas ruas e suas crias, ou um contexto mais amplo, tanto faz, a maldade está dentro de cada um, esperando uma brecha para sair. A pequena cidade que a cada dia cresce mais, e traz junto todos os problemas de qualquer sociedade, está presente no mais novo disco. Intencionalmente ou não.
As guitarras, duas já faz algum tempo, duelam durante todo disco, assim como a bateria e o baixo. Parecem duas duplas separadas que, se juntando, trouxeram coesão ao psicodelismo que as vezes escapava e enfadava. Mas para quem gosta, a viagem ainda está presente: quatro minutos instrumentais em “Quarto dos Fungos”. A viagem também faz parte do resultado de substâncias após serem consumidas, então está na pauta do disco que tem apenas seis músicas e fala de drogas e do universo muitas vezes sujo que as circundam.
Suor, fezes, urina, estão lado a lado com seringas, morte, compaixão. As músicas se completam. Como “Ela vestiu-se de chamas”, que começa com a frase título e “Morfina”, que começa com “ela vestiu-se de compaixão”. Refrões? Não. As letras são pequenos contos entrelaçados. Pode-se considerar o disco conceitual já que a capa, as músicas e até o título Eli, Lama Sabachthani (em aramaico: Pai, porque me abandonaste) fazem referência a queda, ao abandono e até ao desespero, presente na última música. A mais arrastada e que faz ode ao suicídio. As vezes a única forma de escapar da via crucis que foram todas as músicas anteriores. É o fim do disco e o fim da linha para o desregrado que não se regenera. O fundo do poço.
O novo disco não foge da fórmula dos anteriores, mas é fruto das mudanças pelas quais a banda passou. E não foi brusca, foi gradual. Nesses dias que bandas com pegada mais pesada estão em evidência, o tal stoner, o Bugs tem tudo para emplacar shows onde quiser, só depende deles. Músicas boas e experiência a banda tem, basta deixar de lado a aparência de “não estou nem aí” e sair de Natal.
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