O punk americano e seu primeiro clássico, se não contarmos Stooges e Ramones, é claro. Lançado em 1980, "Fresh fruits for rotting vegetables" é um dos discos mais barulhentos de todos os tempos. Tinha que ser parido na esquizofrênica San Francisco, lar dos Dead Kennedys. Seu líder, Jello Biafra, chegou até a se candidatar a prefeito anos depois. Hoje em dia, Jello tem que pensar e reconsiderar aquilo que ele mesmo ajudou a criar e sedimentar, ou seja, o próprio punk rock nos EUA. Acusado de "traidor", no ano passado levou porrada em tudo o que é lugar e acabou machucado em um dos joelhos seriamente. Quem fez isso? os próprios punks californianos, os mesmos que fizeram a banda acabar em 86, quando o guitarrista East Bay ray declarou que o movimento punk estava ficando "conservador" e pulou fora. Na mesma época, eles estavam sofrendo vários processos por causa do LP "Frankeinchrist", de 85. O problema era o encarte, tido como ofensivo. O último disco deles "Bed time for democracy", foi lançado em 86. Voltando ao ano de 80, a porradaria começa lenta e logo descamba para o hardcore - depois vem "Forward to death", uma espetada no american way of life em meio à corrida armamentista em voga. A próxima, "When ya get drafted", é outro petardo com um solo estranho de guitarra, parece aquela música que surge no desenho Scoobydoo quando um fantasma entra em cena. "Let's linch the landlord", é uma das famosas canções da banda. Seu riff de guitarra é inesquecível. "Drug me" é outro míssil em direção ao consumo de drogas, no qual até uma vitamina C serve como estimulante. "Your emotions" é punk rock na maior rapidez. "Chemical warfare" é hilária. Descreve uma bomba de gás caindo num campo de golfe lotado, jogada pelo bandleader, é claro. Na hora do pânico, os Dead Kennedys tocam uma valsa, para depois voltar com tudo gritando o refrão. O lado B inicia com "California übber alles", em seu discurso inflamado contra o então governador da California, Jerry Brown. Segue-se "I kill Children", falando dos lunáticos ianques que, de vez em quando, matam crianças por lá. "Stealing people's mail" é cheia de paradas, com um teclado (!) pra lá de punk. "Funland at the beach" mantém a velocidade. "I'll in the head" grita: "i want my own home/i want my own girl"; desespero pior, impossível. "Holiday in Cambodia" é sem comentários, clássico absoluto. Começa com efeitos, vai num crescendo até explodir. O destaque do LP inteiro são as guitarras, altas, sujas e muito bem gravadas. E o encarte - colagem, que mede 98X57 cm, que o seu CDzinho jamais terá...
(resenha retirada do zine Automatic #01 [jul/ago-97] by Alexandre "The Boss" Alves)